OUVIU DOUTOR?
Doutor sempre deitava só.
Armava o barraco
Num arco.
Doutor sempre tomava mingau
Deitava em um milharal.
Comia,
Dormia,
Vivia.
Doutor sempre arrumava encrenca.
Dizia que Melhoral
Era para dor de barriga
E Cibalena
Era para Lena.
Assim era o Doutor.
Ouviu Doutor?
Não, não ouviu?
O Senhor não é Doutor,
Apenas é ator.
RECONSTRUÇÃO
Construção,
Reconstrução,
Compreensão,
Fusão.
Olhando,
Pensando,
Fazendo uma ação.
Beijão,
Tesão,
Construção,
Reconstrução,
Um grande barril de afeto
Para a reconstrução de uma grande ação.
DESPERCEBIDO
Apercebido,
Percebido,
Esquecido,
Despercebido.
Vai João pela rua nua,.
Banhado pela lua.
Em um canto deita sua cabeça
E abraça sua melancolia de final de tarde.
Pensa em seu louco amor.
Que foi conquistado em uma segunda.
Despertado em uma terça,
Encantado em uma quarta,
Discutido em uma quinta,
Enrolado em uma sexta,
Despedido sem um beijo no sábado,
E terminado em um domingo.
Cheio de platéia e algodão-doce.
Acabado em um parque de diversões.
Sem um sequer esboço do que significou o amor.
RETRATO
Lá naquela casa da Rua São Lourenço
Os meninos deixavam que os holofotes em preto e branco
Entrassem em seus mundos encantados.
Era o retrato de uma família grande,
Cada qual com seu cada qual.
Uns apresentavam muitas sardas no rosto,
Outros por divergência de opiniões
Inspiravam-se no mundo fantástico
Dos conhecimentos humanos.
Outros seguiam os dizeres poderosos da mãe,
Alguns se retratavam na diversão cotidiana.
Nem sempre sabiam usar de uma oralidade
Recheada de metáforas.
Sei que aquele retrato,
Que nunca desconectei da minha existência,
Que tampouco saiu da minha imaginação,
Sempre existiu.