Poesias de Maria Cristina Ferrarez

 

 

OUVIU DOUTOR?

 

Doutor sempre deitava só.

Armava o barraco

Num arco.

Doutor sempre tomava mingau

Deitava em um milharal.

Comia,

Dormia,

Vivia.

Doutor sempre arrumava encrenca.

Dizia que Melhoral

Era para dor de barriga

E Cibalena

Era para Lena.

Assim era o Doutor.

Ouviu Doutor?

Não, não ouviu?

O Senhor não é Doutor,

Apenas é ator.

 

 

 

RECONSTRUÇÃO

 

Construção,

Reconstrução,

Compreensão,

Fusão.

Olhando,

Pensando,

Fazendo uma ação.

Beijão,

Tesão,

Construção,

Reconstrução,

Um grande barril de afeto

Para a reconstrução de uma grande ação.

 

 

 

DESPERCEBIDO

 

Apercebido,

Percebido,

Esquecido,

Despercebido.

Vai João pela rua nua,.

Banhado pela lua.

Em um canto deita sua cabeça

E abraça sua melancolia de final de tarde.

Pensa em seu louco amor.

Que foi conquistado em uma segunda.

Despertado em uma terça,

Encantado em uma quarta,

Discutido em uma quinta,

Enrolado em uma sexta,

Despedido sem um beijo no sábado,

E terminado em um domingo.

Cheio de platéia e algodão-doce.

Acabado em um parque de diversões.

Sem um sequer esboço do que significou o amor.

 

 

 

 

RETRATO

 

Lá naquela casa da Rua São Lourenço

Os meninos deixavam que os holofotes em preto e branco

Entrassem em seus mundos encantados.

Era o retrato de uma família grande,

Cada qual com seu cada qual.

Uns apresentavam muitas sardas no rosto,

Outros por divergência de opiniões

Inspiravam-se no mundo fantástico

Dos conhecimentos humanos.

Outros seguiam os dizeres poderosos da mãe,

Alguns se retratavam na diversão cotidiana.

Nem sempre sabiam usar de uma oralidade

Recheada de metáforas.

Sei que aquele retrato,

Que nunca desconectei da minha existência,

Que tampouco saiu da minha imaginação,

Sempre existiu.